terça-feira, 7 de abril de 2009

a confusão de Maria

A Maria chegou no analista e não quis deitar no divã.
Ela sempre deitava no divã e achava isso muito bom.
O divã faz milagres, ela costumava dizer.
A Maria então naquele dia não queria milagres.
Ela queria alguma outra coisa, o quê? O quê?
A Maria preferiu sentar, meio de lado. De frente seria muito.
E aí disse:
"Estou confusa".
Tão confusa a Maria estava que não conseguiu, ela não conseguiu nem o lé, nem o cré, nem o lé com cré, nem o cré com lé, nem o lá, nem o si, nem o dó, nem o pão-de-ló. Ela não conseguiu explicar nada com coisa nenhuma e tudo que dizia parecia um redemoinho caótico.
A analista ouvia e falava algumas coisas. Meneava a cabeça. Piscava. E dizia algumas coisas mais. E ficava em silêncio. E piscava. E mudava de posição. E se ajeitava. E perguntava isso. Ou perguntava aquilo. E por aí iam indo... Por cinqüenta minutos.
A Maria saiu de lá ainda confusa. Mas não é menos verdade que, agora, a confusão tinha outros tons.