quarta-feira, 18 de novembro de 2009

inércia

Martina ficou feliz de estar naquela van. Estava quase lotada. O ar condicionado deixava o ambiente ligeiramente menos quente que do lado de fora. Ao seu lado, um homem de seus trinta e cinco anos, com uma valise sobre as pernas. Do outro lado, uma senhorinha que segurava firme nas cadeiras da frente, ao lado do motorista. Não havia barulho. Ninguém ligava para ninguém, celulares todos calados, quase um milagre. O motorista era simpático e toda vez que entrava novo passageiro ele era cortês como se aquele fosse o melhor emprego do mundo, e se o dia fosse o melhor após décadas.
Só de estar ali, junto daquelas pessoas, todas desconhecidas, com seus rumos já traçados e suas preocupações tracejando pensamentos em suas mentes incógnitas, e só de estar ali, sendo guiada, sentiu-se melhor. Eram cerca de quatro horas da tarde. O que lhe restava, naqueles cinquenta minutos ou pouco mais, era olhar o trânsito, as vias, os pedestres fazendo sinal, as passarelas, as árvores, e não pensar em mais nada. Estava sendo levada, em comunhão com outros seres, e era inerte, assim, que precisava ficar. Porque era tão trise, tão imensamente triste, perceber que não havia resposta.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

novidade

enquanto não deleto este blog (adiada a decisão com inspiração nas abelhas que a Dani cria), um novo perfil guia a autoria desta confusão letrada.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

o esforço

E me afogo. Na poça, no mar, na banheira. E bato os braços, salpicando pingos para todos os lados. Acho que é no banheiro que me encontro mesmo. Há um espelho do outro lado. E o que vejo são sobrancelhas arqueadas, são rugas na testa, são lábios franzidos. Não sei bem onde vou parar. Mas uma sombra feliz me acompanha nesse estreito cômodo. Ela quer se entranhar em algum lugar de mim e vejo que se esforça e vejo que irá conseguir. Quanto tempo ela vai levar para fazê-lo é uma incógnita ainda maior do que aquela imagem que vejo no reflexo.